RÉMI BRAGUE
Biografia e Pensamento
(Mário Rosa)
Rémi Brague nasceu em Paris a 8 de Setembro de 1947. É um filósofo especialista em filosofia medieval árabe, judaica e cristã.
Ressalto uma característica comum às suas obras. Rémi Brague é um homem extremamente culto. Pode estar a falar do pensamento moderno, por exemplo, e tanto recorre a obras filosóficas como a romances, expressões linguísticas, etc, para ilustrar e dar a compreender melhor o que pretende dizer. Outra característica do seu trabalho é a profusão de notas para fundamentar devidamente cada afirmação sua.
Obra
Da sua vasta obra destaco em primeiro lugar a trilogia de reflexão sobre a cultura:
La Sagesse du monde. Histoire de l’expérience humaine de l’univers (edição portuguesa: «A Sabedoria do Mundo. História da experiência humana do universo»). Logo na introdução deste livro, Brague cita uma resposta eloquente de Sherlock Holmes ao seu amigo Watson: «Que me importa isso a mim? […] Diz-me que giramos à volta do Sol. Se o fizéssemos à volta da Lua, isso não representaria nada no que me respeita a mim ou ao meu trabalho». Pois bem, esta é a pergunta que percorre todo o livro de Brague: o que aconteceu para o homem ter deixado de viver com os astros? Ou, inversamente: que experiência do Universo tinha o mundo antigo e medieval para chegar até a fundamentar uma ética nos astros?
La Loi de Dieu. Histoire philosophique d’une alliance (edição portuguesa: A Lei de Deus. História filosófica de uma aliança). Este livro reflecte sobre as três grandes interpretações da Lei de Deus nas religiões abraâmicas. Por nos ser mais desconhecida, a parte dedicada à religião Islâmica é a que mais surpreende. Tanto pela positiva – o esplendor de cultura que chegou a atingir – como pela negativa: depois deste livro é difícil manter a ingénua e comum ideia de que Cristianismo e Islamismo “adoram o mesmo Deus” e de que em ambas se encontram fundamentações para a violência que cometeram: enquanto os Evangelhos falam em "pregação", o Corão fala de "submissão". Sendo sempre muito respeitoso, Brague nunca cai no pensamento politicamente correcto. E, como sempre, fundamenta muito bem as suas análises.
Le règne de l'homme. Genèse et échec du project moderne (edição inglesa: The Kingdom of Man: Genesis and Failure of the Modern Project; edição espanhola: El Reino del Hombre, Génesis y Fracaso del Proyecto Moderno. A estrutura deste livro é notável. Vai apresentando o projecto moderno, desde quase todas as perspectivas culturais, sem apresentar uma única crítica. Assistimos, ao longo de praticamente todo o livro, a uma mera exposição do projecto moderno. Sentimo-nos até convencidos pelo caminho promissor em que o autor nos vai levando capítulo atrás de capítulo. O penúltimo, porém, intitula-se, muito apropriadamente, «Xeque-mate?». Efectivamente, só nesse momento é que nos apercebemos que estamos num caminho sem saída.
Da restante obra, gostaria ainda de chamar a atenção para três livros.
Au moyen du Moyen Age. Philosophies médiévales en chrétienté, judaïsme, islam (edição inglesa: Legend of the Middle Ages: Philosophical Explorations of Medieval Christianity, Judaism, and Islam; edição espanhola: En Medio de la Edad Media, Filosofias medievales en la cristandad, el judaísmo y el islam.) Trata-se de uma compilação de artigos e inicia-se com uma entrevista. Julgo ser um livro muito esclarecedor para entender as diferenças entre a cultura islâmica e a ocidental e em questões como: que valor tinham as traduções para ambas as culturas?; tinham o mesmo valor institucional a filosofia e a falsafa? A Quarta Parte do livro – Inclusão e Digestão –, tematiza explicitamente estes dois modelos culturais.
Sur la religion (edição portuguesa: Sobre a Religião, E a sua Relação com a Razão, Liberdade e Violência). Não irei comentar nada deste livro. Apresento apenas o subtítulo que teve na edição francesa: Approchez, elle ne vous mordra pas…
Europe, la voie romaine (Ver recensão em IV - Origem da Cultural Ocidental: Roma).