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IV - ORIGEM DA CULTURA OCIDENTAL: DUAS CIDADES

1. FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA

WERNER JAEGER

(Mário Rosa)

Werner Jaeger (1888-1961), foi um filólogo clássico. Com apenas 26 anos assumiu a cátedra de filologia clássica na Universidade de Basileia, a mesma cátedra que desde 1869 a 1879 tinha ocupado Friedrich Nietzsche. Em 1936 exilou-se nos Estados Unidos por ter sido hostilizado pelo regime nazi.

Jaeger é conhecido sobretudo pela sua monumental obra Paideia: A Formação do Homem Grego. Aqui queremos assinalar outra obra sua: The teology of the early greek philosophers (1947).

A novidade desta obra está em mostrar que o problema “do Divino” ocupa, na especulação dos primeiros filósofos, um lugar muito mais amplo do que somos levados a pensar pela exposição que Aristóteles faz deles no primeiro livro da Metafísica. A questão ganha mais relevância se repararmos que a história da filosofia repetiu sempre a mesma perspectiva: apenas destacou os contributos dos pré-socráticos para uma filosofia da natureza.

Qual foi o erro metodológico que levou a esta abordagem? Em primeiro lugar, a natural tendência que existe em destacar as razões necessárias ao ponto de as fazer passar por suficientes. Em segundo lugar, um erro de transposição, comum na leitura do passado. Com efeito, logo no primeiro capítulo, Jaeger lembra-nos que nos primeiros filósofos não existe uma diferenciação clara dos diversos domínios da filosofia. Por isso, não se pode ler as sentenças pré-socráticas sobre “o Divino” separadas dos elementos ontológicos e vice-versa. A filosofia nessa altura constitui um todo indivisível.

Partindo daqui, Jaeger mostra como a filosofia pré-socrática foi o início de uma teologia natural, e, por isso mesmo, universal, que marcou fortemente a cultura ocidental:

«Partindo destes heroicos começos foi desenvolvendo-se a transformação e revitalização filosófica desde a religião pela teologia de Platão, pelos sistemas de Aristóteles e das escolas helenísticas (estoicos, epicuristas, etc.), e, sobretudo, pelo sistema de teologia que foi um produto do conflito e compenetração da tradição grega e a religião judaica e outras orientais até, por fim, a fé cristã. As bases espirituais desta crescente unidade humanista do mundo foram: 1) o Imperium Romanum, sustentando a ideia de um governo mundial fundado na lei e na justiça; 2) a paideia grega, enquanto a concebeu como ponto de partida para uma cultura humana universal, e 3) uma teologia universal como enquadramento religioso de tal civilização.» (Cap. I: A teologia dos pensadores gregos)

No capítulo II, Jaeger lembra uma frase atribuída a Heraclito quando uns homens vacilavam em entrar na sua casa: “Entrai, também aqui há deuses”. E de seguida acrescenta: «No umbral da porta da filosofia do Ser, que começa com Tales, figura a inscrição, visível ao longe aos olhos do espírito: “Entrai, também aqui há deuses”. Estas palavras vão iluminar o nosso caminho através da filosofia grega».  

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