C. S. LEWIS
Recensão
(Mário Rosa)
Clive Staples Lewis, nasceu em Belfast, em 1898, e morreu em Oxford, em 1963. Foi professor universitário, ensaísta, romancista, poeta e crítico literário. (Salvo raras excepções, não podendo ler no original, é preferível ler as traduções espanholas).
É conhecida a importância da sua amizade com Tolkien, tanto para as respectivas produções literárias como para a conversão de Lewis ao cristianismo. Contudo, Lewis converteu-se à Igreja Anglicana. O livro Surprised by Joy: The Shape of My Early Life (edição espanhola: Cautivado por la Alegría) relata pormenorizadamente a sua conversão. É notável, nesta obra, a consideração que faz sobre a homossexualidade.
Principalmente para quem queira compreender melhor as suas obras de ficção, tanto para crianças como para adultos, é importante ler os seus dois estudos mais profundos: The Allegory of Love: A Study in Medieval Tradition - 1936 (edição espanhola: La alegoría del amor) e The Discarded Image: An Introduction to Medieval and Renaissance Literature - 1964 (edição espanhola: La Imagen del Mundo. Introducción a la Literatura Medieval y Renacentista).
Estes mesmos dois livros são também relevantes para compreender a sua obra mais original e, na nossa opinião, mais importante: The Four Loves - 1960 (edição espanhola: Los Quatro Amores). Neste livro, C. S. Lewis, estende o princípio denunciado no livro Amor e Ocidente – «o amor só deixará de ser um demónio quando deixar de pretender ser Deus» – a toda a diversidade de amores humanos: amor pela natureza, amor pela pátria, amizade, paixão, amor pela família, amor a Deus. Fica claro no fim da sua leitura o que nos propõe na introdução: se ignoramos os problemas do amor, «a verdade de que Deus é amor pode chegar a significar precisamente o inverso: de que o amor é Deus.»
Mas este livro é mais do que isto. Partindo de uma consideração do livro da Imitação de Cristo - «O mais elevado não se sustenta sem o mais humilde» - Lewis mostra como os amores mais elevados se fundam nos mais humildes. Neste ponto, a sua capacidade de descrição é notável.
C. S. Lewis é sobretudo conhecido como um apologeta cristão. Em poucos autores encontraremos uma análise tão lúcida das objecções ao cristianismo, sobretudo no que se refere aos lugares-comuns da discussão.
The Problem of Pain - 1940 (edição espanhola: El problema del dolor). Excelente livro que ficou “desacreditado” pela publicação do livro em que relata a morte da sua mulher: A Grief Observed – 1961 (edição portuguesa: Dor). O filme Shadowlands veio ainda mais abrir este fosso. Em poucas palavras: o primeiro livro seria pura teoria; o segundo vinha mostrar que, na realidade, o Cristianismo não oferece uma solução para a dor. Mas esta tese é insustentável. Se o final de A Grief Observed é uma reafirmação da sua crença cristã, coisa que não transparece tão claramente no filme, deve-se também ao background intelectual que lhe proporcionou o livro The Problem of Pain.
Mais uma nota sobre este livro: também aqui se verifica o princípio pascaliano: pensar o problema da dor sem o mistério do pecado original é um mistério maior do que o próprio pecado original.
Mere Christianity – 1941/44 (edição espanhola: Mero Cristianismo). Baseado em palestras radiofónicas, este livro, além de explicar de forma muito acessível as principais verdades cristãs, permanece no âmbito do que une todas as confissões cristãs.
Christian Behaviour - 1943. Livro pequeno, muito acessível, sobre ética. É também um conjunto de palestras radiofónicas. Vale muito a pena ver a crítica que estabelece à psicanálise.
The Abolition of Man -1943. Livro profético sobre a nossa situação actual. A tese do livro resume-se em poucas palavras: se o homem se convence que é o que não é, torna-se mesmo naquilo que não é. É a nossa situação actual. Perceber o caminho que se tomou até aqui é o que vale a leitura deste pequeno livro.
The Screwtape Letters - 1942 (edição portuguesa: Cartas de um Demónio ao seu Sobrinho). Quem tem alguma vivência ascética cristã ficará surpreendido com a semelhança dos seus problemas com os da personagem principal. Além do mais está escrito com um sentido de humor very british.
The Great Divorce - 1945 (edição espanhola: El Gran Divorcio). Novela muitíssimo interessante sobre a realidade do Céu e do Inferno. A introdução do livro orienta bem a leitura e mostra o problema que coloca à liberdade do homem a inexistência do Inferno.
That Hideous Strength - 1945 (edição espanhola: Esa Horrible Fuerza). É o melhor livro da sua Space Trilogy. Livro importante para se perceber como seria a apropriação existencial de alguém que só acredita na ciência experimental. O argumento que leva o protagonista a converter-se ao cristianismo é digno de ser meditado. Também pelos crentes.
Essay Collection – Existem várias edições que recolhem artigos e conferências dispersas. Quase todos têm um ou outro artigo a não perder. God in the Dock: Essays on Theology and Ethics (edição espanhola: Dios en el Banquillo) é das melhores, principalmente no que toca à crítica aos devaneios de alguns teólogos modernos.