Mário Rosa/Carlos Negrais
«Em 1978, um grupo de amigos, na altura prestes a entrar na faculdade, trava conhecimento com um estranho homem numa aldeia da Beira Baixa, a Azinhaga dos Morituros. O seu nome era Lopo. Os encontros foram-se multiplicando até à data da sua morte, em 1989. Foi por ele que tomaram conhecimento da Lenda da Azinhaga dos Morituros e assistiram aos últimos tempos de uma tradição que julgavam há muito desaparecida. Dois mundos se confrontaram então: o antigo e o moderno. O Teatro dos Mundos não fala de outra coisa. Nele encontramos a dramatização de dois mundos em conflito.» E esta dramatização é longamente aprofundada por um intenso debate filosófico, histórico, teológico e artístico.
Este livro contém um CD, composto por onze músicas, produzido por ORO, de João Gil e Artur Costa. Conta com as vozes de Isabel Silvestre e Celina da Piedade. João Gil procurou combinar numa mesma expressão artística dois géneros musicais em conflito: o tradicional e o moderno. Este trabalho artístico representa uma espécie de "música de cena" apropriada à história relatada.
Por decisão dos autores do livro e dos autores do CD, iremos agora, neste tempo de confinamento, disponibilizar gratuitamente cada uma das músicas.
Quem quiser adquirir um exemplar do livro, de valor de 25€ + custos de envio, poderá fazer o seu pedido para info@casadadivinacomedia.pt
Também existe um site que ajuda a leitura do livro, onde se reunem fotografias, desenhos, pautas musicais, traduções de poemas etc.: oteatrodosmundos.pt
As Falas da Terra
A terra deita-me falas,
eu não sei o que ela tem.
Todo o dia a trabalho,
à espera de ouvi-la bem.
No tempo das sementeiras
fiz-lhe guerra com o arado.
Abri-lhe o peito ao céu –
Deixei a correr-lhe o fado!
Refrão:
E que tens tu com estas falas,
mondadeira de velhos ritos?
Pelas tuas mãos nascem trigais;
no teu seio, morrem aflitos.
Trigo nasceu, cresceu loiro;
Não sei o que mais brotou.
Talvez na ceifa encontre
o que tanto por mim chamou.
Ceifei trigo, pu-lo na eira;
não sei o que sobejou:
Perdi-me nas duras malhas,
já não sei mais quem eu sou.
Refrão:
E que tens tu com estas falas,
ó minha parteira dos campos?
Geme a terra nos teus cantos,
baila a gente nos teus braços.
Por que cantas, minha ceifeira,
quando ceifas o loiro campo?
Deitas a tua voz ao vento,
a terra irrompe no teu canto.
"As Falas da Terra" (Música: João Gil/ Letra: Carlos Negrais / Voz: João Gil, Celina da Piedade e Manuel Ogando)
Era um Anjo
Andando pelos caminhos,
Um só é o meu cuidado.
Procuro o meu amor,
O meu coração roubado.
Era um anjo, meu Deus, era um anjo,
Era um anjo, meu Deus, que eu amei;
Confesso que ainda o amo
E nunca, nunca mais o esquecerei.
Por esta rua irei,
Por outra darei volta;
Aqui mora o meu amor,
Mas eu não lhe sei a porta.
(Música Popular/Artur Costa/ Voz: Frederica Reis)
Saudade
São tantas as saudades
Que as não posso contar!
São tantas como as estrelas
Como as areias do mar!
A saudade é um luto.
Uma dor, uma paixão!
É um cortinado roxo
Que me cobre o coração!
(Música Popular/Artur Costa/ Voz: Grupo Coral das Lajes do Pico)
Lamentações da Rosa da Noite ao Sol
Perdida, só co’ a tua luz;
Sou cega, só de te olhar...
E fecho-me, em regaço,
Na dor de não te abraçar.
Florindo na noite que cai,
Ferida na tua morte,
Espero-te nesse adeus
Tão longe da tua sorte.
Porquê, meu sol, porquê assim?
Porquê só te poder ver bem
Na falta que fazes em mim.
***
Escondo-me, se olhas p’ra trás;
Recolho-me, se tocas em mim!
Deixa-me amar no segredo
Dessa falta que fazes em mim.
Florindo numa exalação
Na noite escura, vazia,
Espero tão só o rocio
Dessa luz que te pressagia.
E porquê, meu Sol, porquê assim,
Por que não me deixas amar-te
Esquecendo tudo sobre mim?
(Música/Rafael Gil/ Letra: Carlos Negrais/ Voz: Manuel Rebelo)
As Voltas do teu Dançar
Tantas são as voltas
Que eu não sei quando entrari! (bis)
Deita-me um aceno breve
Quando for p’ra começari:
P’ra começari! (bis)
Quantas são as voltas,
Meu amor, p’ra te encontrari? (bis)
Voltas e mais voltas são
À espera de te abraçari!
De te abraçari! (bis)
Voltas e mais voltas
Tantas voltas ao meu pari! (bis)
Se não me deixas a mão
Meu amor, nã sei parari:
Nã sei parari! (bis)!
(Música Popular/Artur Costa/ Letra: Carlos Negrais/ Voz: Isabel Silvestre)
O Céu na Terra
O meu amor muito andou...
Lavrou, semeou;
Mondou, ceifou;
Malhou, guardou...
E muito lhe escapou!
O meu amor muito esperou...
Velou, dormiu;
Cantou, calou;
Amou, sofreu...
E muito aconteceu!
Onde está o teu segredo,
Oh terra?
Que ninguém te entende!
Onde está o teu segredo?
Só o Céu,
Te abre e fecunda!
(Música Popular/Artur Costa/ Letra: Carlos Negrais/ Voz: Isabel Silvestre/Viola d'Arco: Manuel Santos/ Desenhos: Pastor-de-linces)
Quando eu era pequenina
Quando eu era pequanina,
acabado de nasceri,
já me’ coração batia,
me’ amor, p’ra t’imitari.
Quando eu já for velhinha,
Tão cansada de viveri,
na’ deixes tu de bateri,
me’ amor, p’ra me embalari.
(Música Popular/Artur Costa/ Letra: Carlos Negrais/ Voz: Celina da Piedade)