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ROBERT SPAEMANN

Biografia e Pensamento

(Mário Rosa)

 

Robert Spaemann foi um filósofo alemão. Nasceu em Berlim em 1927 e morreu no dia 10 de Dezembro de 2018. Da sua biografia destaco um acontecimento, ocorrido durante uma fase prévia ao serviço militar, em que teve de jurar fidelidade ao Führer, a Hitler. Desobedeceu e ocultou-se. Mais tarde, questionado sobre este momento, comentou:  

 

«Depois da guerra, muitos diziam que não se tinham dado conta [do que se tinha feito aos judeus]. Não mentiam. Mas, por que não o souberam? Porque não queriam saber.»

 

Este «querer saber», esta abertura ao aguilhão da verdade e não preferir o cómodo «todos fazem» ou o refúgio em normas morais em certa medida verdadeiras mas demasiado cómodas para não serem suspeitas, (como, por exemplo, «os soldados não podem ser julgados por obedecer»), foi uma constante também do seu pensamento.

 

Um homem assim, ao debruçar-se sobre o pensamento ético, tem de levantar uma primeira e irrenunciável pergunta: poderá a ética ficar dependente de um pensamento filosófico, no final de contas, de um simples homem por muito genial que seja? O que poderá assegurar que um filósofo não construa uma ética à imagem da sua vida e do que lhe convém?

 

Um dos primeiros critérios é a valorização suprema da «verdade». Só a verdade descansa em si mesma. Só a verdade pode parar a interminável subtileza do interesse e a consequente suspeita. Muitos destacam que a grande originalidade do pensamento ético de Spaemann foi a superação do dualismo ético pela correcta caracterização do amor benevolentiae. Mas a bene-volentiae é apenas o meio, a abertura, para se impor o «princípio de realidade». Daí que o aforismo de Heraclito que Spaemann coloca como início da sua obra de maturidade seja uma efectiva orientação do seu pensamento:

 

«Na vigília temos um mundo único e comum. Mas os que sonham dirigem-se cada um para o seu mundo». 

 

Outro critério fundamental é a valorização de toda a grande tradição cultural e filosófica. No prólogo ao seu grande livro de ética, escreve: «este ensaio de ética não contém – assim o espero – nada de fundamentalmente novo. Tratando-se de questões sobre a vida recta, só o falso poderia ser realmente novo.»

 

Este critério também implica que, sem deixar de reconhecer os dados positivos que trouxe o pensamento moderno, a sua pretensão de «novidade absoluta», só pode ser suspeita. Sobretudo, incoerente. Pior ainda: autofágica. Só assim se pode continuar a chamar «moderno» a um pensamento que já existe há vários séculos.

 

Neste contexto que agora nos ocupa - o  pensamento moderno - vale a pena destacar uma característica do pensamento de Spaemann. É comum a crítica que se faz ao “pensamento filosófico tradicional” de não entender o que os filósofos modernos estão a dizer. Será muito difícil manter esta crítica a Spaemann. É constante e profundo o seu diálogo com os filósofos modernos e contemporâneos.

 

 

Obras sobre Ética

 

 

Destaco, em primeiro lugar, um pequeno livro que não requer especiais conhecimentos filosóficos: Moralische Grunddbergriffe (edição inglesa: Basic Moral Concepts; edição espanhola: Ética: Cuestiones fundamentales). Trata-se de um conjunto de emissões da rádio da Baviera, em 1981. Os temas do relativismo, do consequencialismo, do princípio do prazer, são abordados com simplicidade mas sem perder profundidade. 

 

Em segundo lugar apresento a sua grande obra de maturidade filosófica: Glück und Wohlwollen (edição inglesa: Happiness and Benevolence; edição espanhola: Felicidad y Benevolencia). É notável o diálogo que vai mantendo com as grandes tradições filosóficas, também a moderna. A originalidade mais visível é a superação do dualismo ético entre eudaimonia e dever. Note-se, e este será um dos caminhos da superação a recorrer, a resistência que oferece Spaemann em traduzir «eudaimonia» por felicidade.

 

Por fim, apresento um livro muito denso: Personen. Versuche über den Unterschied  zwischen «etwas» und «jemand» (edição inglesa: Persons: The Difference between “Someone” and “Something”; edição espanhola: Personas. Acerca de la distinción entre “algo” y “alguien”.) Para quem procurar análises filosóficas sobre a ideologia de género, a eutanásia, a consciência moral, este livro é indispensável. A dicotomia que nos apresenta o autor é clara: ou auto-realização ou auto-transcendência.

 

 

Pensamento Político

(Em breve)

 

 

Artigos

 

Na internet há um conjunto de artigos em pdf (basta procurar pelo título) cujos títulos são muito sugestivos e de leitura breve:

 

Em Inglês:

 

“When Death Becomes Inhuman”;

“Begotten, Not Made;

“An Animal That Can Promise and Forgive;

“How Could You Do What You Did;

“Is Brain Death the Death of a Human Person?”.

 

Em espanhol:

 

«Sobre el concepto de dignidad humana»;

«Sobre la ontología de las ‘derechas’ y las ‘izquierdas’»;

«Confianza»;

«Universalismo o eurocentrismo. La universalidad de los derechos humanos»

«Lo ritual y lo moral»;

«Normas morales y orden jurídico»;

«Teleología natural y acción»;

«Realidad como antropomorfismo»;

«¿Qué significa: el arte imita la naturaleza?»;

«Anotaciones al concepto de fundamentalismo»;

«La perversa teoría del fin bueno»;

«¿Es todo ser humano una persona?»;

«La inviolabilidad de la vida humana»;

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