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XAVIER ZUBIRI

Recensão

(Mário Rosa)

Xavier Zubiri nasceu no País Basco, em 1898, e morreu em 1983. Foi ordenado sacerdote em 1921 e foi reduzido, a seu pedido, ao estado laical em 1935. Este foi um ano importante da sua vida. Teve uma conversão de vida e lamentou até aos seus últimos dias os anos em que não viveu dignamente o seu sacerdócio. Outro momento marcante da sua vida, agora como filósofo, foi o ano de 1929: vai para Alemanha conhecer melhor o pensamento de Husserl e ter aulas com Heidegger.

 

Naturaleza, Historia, Dios: É o seu primeiro livro, reunindo um conjunto de artigos que tinha escrito até então. É a sua obra mais acessível e serve muito bem como introdução ao seu pensamento. Pelos vários temas que vai tratando, o tema da realidade vai adquirindo amplitude. Zubiri tem sempre muito presente, até porque foi discípulo de Ortega y Gasset, que recolocar o tema da realidade exige um conceito que não se reduza ao conceito de res, de “coisa” (El acontecer humano: Grecia y la pervivencia del pasado filosófico) Também já está muito claro que tem de oferecer uma solução à crítica que Heidegger faz à Metafísica Ocidental (En Torno al problema de Dios). Por outro lado, como quer pensar a realidade, não pode deixar de tematizar as novas teorias da ciência experimental (Ciencia y Realidad; La Idea de Naturaleza: la Nueva Fisica). Mas talvez o estudo mais importante para a constituição da sua filosofia seja Que es Saber?. Já aqui se prefigura que repensar o tema da realidade exige, previamente, uma nova análise sobre a inteligência e o sentir.

 

Inteligencia y Realidad - 1980; Inteligencia y Logos - 1982, Inteligencia y Razón - 1983. Esta trilogia corresponde ao seu pensamento de maturidade. Consiste, como tantas vezes repetiu Zubiri, em aprofundar a única ideia fundante de todo o seu pensamento: inteligência e sentir, enquanto actos, constituem uma só coisa. Não são dois actos que concorrem para uma mesma apreensão. Todo o acto de sentir, para o ser, é já “inteligente”; todo o acto de inteligência, para o ser, é já sentinte. Enquanto potências são diferentes. Mas este é um plano a que Zubiri não quer dar muito relevo nesta obra. Quer permanecer num plano descritivo. Mais, foi por isso mesmo, por se ter partido para a consideração da inteligência e do sentir primariamente enquanto potências, que impediu ver a sua unidade enquanto acto. E quando as considerou enquanto actos perdeu-se na diversidade de cada um deles (na inteligência: conceptualizar, julgar, raciocinar; no sentir: ver, ouvir, tocar, etc) sem atender ao que seja inteligir e sentir enquanto tais.

 

É notável como se pode pensar a partir da tradição, querer permanecer nela, e encontrar algo de novo. O objectivo da filosofia de Zubiri, como tantas vezes nos repete, foi claro: assim como Aristóteles conseguiu a unidade metafísica fazendo das ideias platónicas a forma consubstancial das coisas, assim é preciso conseguir a unidade do próprio acto de conhecer.

  

A partir deste momento o tema da realidade é colocado de outro modo. Realidade já não é algo que se sente e sobre o qual a inteligência pensa. Esse é, precisamente, o abismo que se abriu no caminho à realidade. Realidade é algo que já está dado à inteligência por esta ser, em acto, uma só coisa com o sentir. A inteligência nunca sai da realidade. Mas a realidade é aberta e conhece vários níveis. O conteúdo da realidade em mim pode ser diferente do conteúdo da realidade em si: mas o momento de realidade é o mesmo.

 

Falou-se, na nossa introdução à metafísica, sobre o dado originário como a realidade se impõe. O primeiro livro da trilogia, no § 2 Aprehension de Realidade, no ponto 2 La modificación de los tres momentos de la impresión, constitui a primeira tentativa de dar conta desse dado.

Para este autor o que é então a metafísica? A metafísica não é a procura da realidade para além das coisas. Constitui, pelo contrário, o domínio do óbvio. É tão óbvio que não se consegue topar com ele a não ser por uma contorção violenta. 

  

Certamente, dentro deste novo caminho mais geral, muita coisa deve ser ainda aprofundada e questionada na filosofia de Zubiri. Talvez a mais preocupante, atendendo à tradição metafísica, seja a sua análise do ser, distinta de realidade. Neste sentido, a sua obra mais importante, La Esencia, deve ser bem repensada.

 

Além de tudo isto, Zubiri é um historiador notável da filosofia. As análises que faz de cada autor assim como a sua inserção no horizonte filosófico correspondente, valem sempre a pena. Neste enquadramento, o livro Los problemas Fundamentales de la Metafísica Occidental é imperdível.

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